Academia Campomaiorense de Ciências, Artes e Letras

Elegia a Campo Maior

Autor: José Elmar de Melo Carvalho
Publicado em: 28 de outubro de 2024

Na paisagem plana do tabuleiro
campeava sozinha a solidão.
Ao longe, nas manhãs de inverno,
a serra cachimbava suas névoas.
As névoas se misturavam com as nuvens
que rondavam sobre o cume.
As águas mortas do açude
tudo viam e tudo refletiam.
À tarde o aboio dolente do vaqueiro
partia a solidão que tudo presidia.
E o aboio sem resposta
– eco de si mesmo – repetia-se e se extinguia.
O canto rascante e áspero de grilos e cigarras
arranhava o veludo macio do silêncio.
Os cupins espalhados pelo tabuleiro
eram pedras de um jogo em que a
tristeza jogava paciência com a solidão.
E a palma da carnaúba acenava
para vivalma que nunca partia ou
para um fantasma que jamais chegava.
O menino em seu cavalo de talo de carnaúba
campeava seu rebanho de nada
pela fazenda do não-ser.
Campeava seu rebanho de bois de jatobá
por entre manadas de formigas
que pastavam tapetes de babugens
por entre cupins que erigiam moradas
de solidão na solidão da chapada.
E a serra se erguia do plano descampado
cachimbando suas névoas
para um céu que sequer olhava.
Cachimbando suas brumas
como um Sinai que fumegasse.
Diz a lenda que a serra é uma cidade
encantada. Diz o povo que em suas encostas
vagam fantasmas penados em busca de furnas
de ouro. Mas nas cavernas apenas a onça
faz morada.
Mas o menino ainda assim esperava pelo
desencantamento da serra em vão esperado.
Porque o menino era um poeta
que campeava pelo campo do sem fim
o seu rebanho de sonho e solidão.

José Elmar de Melo Carvalho

José Elmar de Melo Carvalho

Cadeira 2

Elmar Carvalho – Nasceu em Campo Maior, em 09/04/1956. Juiz de Direito aposentado. Poeta, ensaísta, contista, cronista e romancista. Formado...

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