Autor: Ana Maria Oliveira Cunha
Publicado em: 3 de novembro de 2024
Na rua de minha infância haviam crianças felizes e adultos sofridos,
Porém talentosos e queridos
Que viviam de sua arte e a vendiam em toda parte,
Por isso eram identificados por ela…
Na rua de minha infância tinha “Seu” Sebastião Marceneiro,
Dona Maria Costureira,
O Chico Sacristão, a Vagna Manicure e o Ribão Borracheiro…
Tinha “Seu” José Sapateiro, o Nonato Marchante
E o Zé Poeta, que é meu pai…
Para mim, tão importante…
A gente já sabia ao chamá-los, qual era seu oficio.
Pois a sua arte substituía seu sobrenome,
Assim identificá-los não era difícil…
Bastava ouvir seu codinome
Para informar aonde moravam, o que faziam e até o que pensavam
Pois todos ali se conheciam.
Povoaram meus dias na minha infância,
Figuras inesquecíveis, como Seu Ruberto
Chico Oião, Marica Neves, Zefa Cabeça Branca…
Na minha rua morava, dentre outras, a família Barros e Pereira,
A família Gomes, Ramos, Andrade, Silva, Oliveira,
Loyola, Messias, Neves, Paz, Cunha…
E o mais interessante é que
Até a própria rua tinha sua alcunha
Oficialmente era a Rua Maranhão,
Mas popularmente conhecida como Rua da Lagoa.
Porque no final da rua, tinha de fato, uma lagoa
Onde as crianças davam mergulhos profundos
Esqueciam seu medo do futuro,
Para viver ali, a mais livre e feliz infância do mundo!