Academia Campomaiorense de Ciências, Artes e Letras

A tradição dos festejos e os poderes e legados em Campo Maior

Autor: Moacir Ximenes de Lima
Publicado em: 3 de novembro de 2024

Já há séculos anualmente se realiza o grande Festejo de Santo Antônio na praça da igreja matriz (Praça Bona Primo) em Campo Maior, no estado brasileiro do Piauí.

As festividades são da tradição das festas juninas, por isso, acontece de 31 de maio a 13 de junho de cada ano. Mas durante a pandemia de Covid-19 não foi realizada, mais precisamente nos anos de 2020 e 2021. É uma celebração com vários desdobramentos, principalmente, religioso e econômico.

A parte religiosa

Na doutrina cristã essa é a parte espiritual. É a parte cujo ato maior são as tradicionais novenas na igreja matriz que começam por volta das 19 horas e vai até na casa das 21 horas. Por ser uma novena a cada dia, 13 ao total, é um trezenário. Nesse ato religioso de cultura cristã a celebração geralmente é conduzida pelo próprio Bispo Diocesano, já que a poderosa Campo Maior é sede de uma diocese, uma sé cristã-católica.

A parte temporal

Também conhecida como parte social, humana e até mundana. Essa é a parte temporal onde o ser humano precisa também das coisas do mundo para viver e conviver: encontros em praça pública com familiares e amigos. Há fartura de comidas típicas, bebidas também. Apresentações musicais com artistas da terra e nacionais. Campomaiorenses que moram em outras partes do Brasil e do mundo vem para participar e visitar, rever familiares e amigos de geração.

Legado

Ao longo dos séculos se ver que o festejo é positivo para a região pelo fato de ser uma forma de manter as tradições juninas no tempo e também por dá uma forte movimentada na economia regional no período, já que aumenta o movimento na rede hoteleira, na venda de roupas, de alimentos, de brinquedos e diversões (parque com roda gigante etc).

Gera renda que serve para a cidade (e região) como um todo.

Outros poderios e legados de Campo Maior

Campo Maior é um munícipio dos mais tradicionais do Piauí, tanto em tradições como em poderios e representatividades. Mais conhecida por ser terra dos carnaubais, da carne de sol e da grande Batalha do Jenipapo, uma das lutas em prol do Grito do Ipiranga de unificação da Independência do Brasil lá na década de 1820. O grito do Ipiranga foi o pavio iniciador, devemos reconhecer e louvar, porém, ver que D. Pedro I muito se inteirou com a luta do Piauí, uma luta conjunta das três províncias: Piauí Ceará e Maranhão. Mas Campo Maior também tem outros poderios na sua cultura, vejamos:

Sede de Baronia

Sim, outrora essas plagas campinais foram sede de nada mais nada menos que um baronato. Como assim? Um filho da terra de nome Augusto da Cunha Castelo Branco foi homenageado com o título de Barão de Campo Maior no ano de 1876 conforme leis do país à época. Ainda hoje as homenagens são patrimônio das sociedades aqui e mundo afora. A exemplo, anualmente na Batalha do Jenipapo tem as homenagens de título/grau de oficial, cavaleiro, comendador e demais graus da Ordem Estadual do Mérito Renascença do Piauí e tem a nossa Ordem do Mérito da Batalha do Jenipapo. Faço essa menção para centrar que homenagens foram e são coisas da cultura humana no tempo.

Pois bem, o Barão de Campo Maior serviu como político e até hoje foi o único nascido em Campo Maior que exerceu o cargo de chefe do poder executivo do Piauí, sendo Presidente da Província (atual Governador do Estado). Casou 3 vezes por motivos de viuvez, desse modo, aqui teve três Baronesas de Campo Maior (que tal as famílias das baronesas pesquisarem sobre elas?). O barão ainda foi um cara que ajudava doando dinheiro para manter asilos, hospitais e leprosários tanto no Piauí, Maranhão e Pará, mas padre Chaves cita que ele morreu muito pobre em uma das casas de saúde que ele outrora ajudou a servir.

Poderes na literatura

O campomaiorense Livio Lopes Castelo Branco foi quem em 1879 escreveu um grande clássico da tradição almanaquial, O Almanaque Piauiense, ainda se pesquisa se Campo Maior já havia criado sua biblioteca ainda ano século XIX, sabe-se que fora extinta pelo governo da intendência no tempo da Primeira República, no ano de 1910 (Paz, 2021. p. 96), mas recriada em 1940 após incentivos do Instituto Nacional do Livro na gestão do prefeito Cel. Chico Alves Cavalcante.

Sede de unidade das Forças Armadas do Brasil

Dede 1945 Campo Maior sedia um Tiro de Guerra criado pela portaria do Ministério da Guerra nº 8747, de 31 de janeiro de 1945 (BE nº 45, 10/11/1945), operando como unidade de formação de reserva do Exército do país. E, na década de 1950 o prédio onde atualmente funciona a UESPI funcionou um Batalhão Ferroviário que operava na engenharia da ferrovia que cruzava a cidade (IBGE, 1957). Falar nisso também é sede de batalhão de Polícia Militar com ambiência regional.

Sede diocesana

Campo Maior ainda de orgulha de ser sede de uma Diocese da cristandade-Católica. Nossa diocese é uma circunscrição religiosa de matriz cristã criada por documento papal – as famosas bulas papais – lindos documentos.

Construções inspiradas nos povos antigos ou clássicos

Em Campo Maior se nota alguns tipos de edificações inspiradas nalguns legados da humanidade, mais precisamente de impérios culturais indígenas, egípcio e greco romano. Existe uma pirâmide cuja construção se inspira mesclado legados arquitetônicos de povos mexicas e egípcios. Serve como quadra da escola CAIC, no bairro Fripisa. No mesmo complexo arquitetônico do CAIC ainda tem uma arena/teatro semicircular em degraus. Também há na cidade 3 obeliscos, um no bairro de Fática, ao lado da paróquia de N. S. de Fátima; o do relógio público, na praça da estação rodoviária e o pequeno, mas representativo obelisco da Batalha do Jenipapo, construído pelo Conselho Municipal em 1922, tem formato memos egípcio e mais ecleticado.

Responsabilidades para com os legados

Assim, cabe a nós, habitantes da Campo Maior atual mantermos esses legados. Como manter? Nos organizando e valorizando o que somos e também em que devemos melhorar como parte de um país continental. Contudo, é uma discussão aberta no tempo.

Referências

BASTOS, Cláudio de Albuquerque. Dicionário histórico e geográfico do estado do Piauí. Teresina, FCMC/PMT, 1994.
CHAVES. Monsenhor Joaquim Raimundo Ferreira. Obra completa. Teresina. Halley, 2007
FRANCO, José Patrício. O Município no Piauí 1761-1961. Teresina, Comepi, 1977.
IBGE. Enciclopédia dos Municípios Brasileiros. (volume Piauí). Rio de Janeiro, edição do IBGE, 1957
MATTOS, João Batista de (Tenente-coronel). Os Monumentos Nacionais – Piauí. Rio de Janeiro; Imprensa Militar, 1949.
PAZ, Antônio Heldo de Souza. A Vila de Campo Maior e os Paz – 1838 -1960. Teresina: Cancioneiro, 2021. ISBN 978-65-89065-19-7
SOARES, Sidney. Enciclopédia dos Municípios Piauienses. Fortaleza; Escola gráfica Santo Antônio. 1972.

Moacir Ximenes de Lima

Moacir Ximenes de Lima

Cadeira 9

Moacir Ximenes é brasileiro nascido na Terra de Iracema no ano de 1978, por um lado familiar descende de judeus....

Ver perfil

Publicações no site:

A Academia Campomaiorense foi fundada no dia 26 de novembro de 2003. Incialmente era composta apenas de Escritores, não demorou muito abriu-se espaço para os Artistas, e recentemente, agregou-se os Cientistas, formando assim a tríade do conhecimento humano.