Cadeira 13 - Patrono
Nasceu Leonardo de Carvalho Castelo Branco em 1788, em Tabocas, uma fazenda de gado à margem esquerda do Rio Longá, num distrito que então pertencia ao município de Parnaíba (hoje Esperantina - PI). Era filho de Miguel de Carvalho Castelo Branco e Dona Ana Rosa Claro Castelo Branco.
No ambiente rude em que viveu seus primeiros anos, fez, em casa, os estudos primários. O que pode avançar, além disso, fez por esforço próprio, sob a orientação de seu pai. Era um jovem inteligentíssimo e muito dado a leituras sérias.
Casou-se ainda jovem, sobrecarregando-se muito cedo com os pesados encargos de chefe de família.
Homem de relativa cultura para o meio em que vivia, fazendeiro de família importante figurou entre os eleitores da Freguesia de Nossa Senhora da Graça de Parnaíba na primeira eleição para Deputados à Corte de Lisboa, que se realizou em Oeiras, em 1821. Nessa eleição foram eleitos representantes do povo piauiense o Dr. Miguel de Sousa Borges Leal Castelo Branco e o poeta Ovídio Saraiva de Carvalho e Silva. Este último não aceitou o mandato, assumindo-o o Padre Domingos da Conceição, na qualidade de suplente.
O movimento de independência se alastrava por Parnaíba, Campo Maior e Oeiras, naqueles dias. Leonardo foi dos primeiros que aderiram ao grupo de Parnaíba, chefiado pelo Dr. João Cândido de Deus e Silva.
Arrebatado por temperamento, não sabia fazer nada por metade. Após sua adesão, abandona a fazenda e a família e se transfere para Parnaíba, pronto para o que desse e viesse.
Acontece que o negócio da Independência em Parnaíba era mais um movimento de ideias. Os parnaibanos haviam, certo, proclamado a adesão de Parnaíba, mas não dispunham de armas, nem de soldados, nem de fortificações para garantir o ato, e não aliciaram o povo para uma luta armada, se tal se fizesse preciso. Quando Fidié para lá se deslocou à frente de uma força armada para cobrar-lhe o arrojo, o movimento de independência de Parnaíba esvaziou-se como um balão furado e seus chefes fugiram às pressas para o Ceará. Entre eles ia o nosso Leonardo.
Ele tinha a palavra fácil e sabia comunicar aos outros, como ninguém, suas próprias ideias, entusiasmando-os. O que não conseguira no Piauí, talvez porque não lhe cabia, aqui, o comando, conseguiu no Ceará. Em Sobral, convenceu um grupo de cearenses a invadirem o Piauí para o libertarem do jugo português. Organizado o corpo expedicionário, Leonardo o dividiu em dois agrupamentos, assumindo o comando do 1° e o outro ficou sob o comando do Capitão piauiense José Francisco de Miranda Osório que seguiu para Campo Maior. Estrategicamente Leonardo com o seu agrupamento invadiu Piracuruca em 22 de janeiro de 1823, surpreendendo e aprisionando a guarnição que Fidié ali deixara para garantir-lhe a retaguarda. Em Piracuruca Leonardo redigiu no dia 24 de janeiro a famosa carta de exortação aos povos piauienses e maranhenses.
Essa exortação mais tarde serviria de peça principal no processo que lhe moveriam em São Luís, depois de ser preso no lugar Repartição.
De Piracuruca marchou célere sobre Campo Maior, que já encontrou rebelada, ali entrando, sem dar um tiro, no dia 2 de fevereiro de 1823. No dia 05 proclamou a adesão da Vila ao movimento da independência. Fez algumas prisões, inclusive do pároco português João Manoel de Almendra. No dia 06 dirigiu correspondência à Câmara Municipal e ao Comando Militar de Caxias-MA, conclamando-os a aderirem também à causa brasílica.
Incompreensivelmente, poucos dias depois, abandonou Campo Maior e foi estabelecer o seu quartel na fazenda Melancias, à margem do rio Parnaíba, defronte ao porto maranhense da Repartição. Ali caiu numa armadilha e foi aprisionado no dia 1° de março, quando distribuía sua proclamação ao povo de Repartição. Transportado para São Luís, encerraram-no na Fortaleza de Santo Antônio da Barra, enquanto lhe arrumavam um processo. A bordo do brigue "Sociedade Feliz" foi enviado para Lisboa, lá chegando em fins de maio, sendo logo recolhido à cadeia do Limoeiro.
Foi esta a participação de Leonardo no movimento da Independência, no Piauí. No dia 13 de março de 1823, dia da Batalha, Leonardo se encontrava preso em São Luís - MA.
Enquanto esteve preso em Lisboa, Leonardo recebeu assistência do representante piauiense, Deputado Miguel de Sousa Borges Leal Castelo Branco. Um decreto de 06 de junho de 1823, indultou todos os prisioneiros políticos. Da prisão Leonardo dirigiu-se ao Rei, pedindo ser solto, o que lhe foi concedido no dia 22 de julho, por acórdão da Relação de Lisboa. Livre embarcou de volta ao Brasil, desembarcando em Pernambuco. Seguindo para Bahia, onde ficou sabendo da rendição de Fidié, em Caxias.
Em 1824 está no Piauí. A independência que possuíamos não era a que ele sonhara. Homem resoluto e destemido, injustiçado pelo Governo Imperial, que não reconhecera sequer com uma condecoração pelos seus feitos e sacrifício em prol da independência, não é de admirar que se envolva novamente em barulho, uma segunda vez, para alcançar o que não conseguira na primeira. Quando teve conhecimento de que rebentara, em Pernambuco, uma revolução com o objetivo de criar uma república que teria o nome de Confederação do Equador, Leonardo largou outra vez seus afazeres e começou a aliciar gente para aderir àquele movimento. O Governo da Província estava atento e Leonardo foi preso e conduzido a Oeiras. De lá o enviaram para São Luís, onde foi solto. Já então ele havia modificado o seu nome, em cumprimento de um voto que fizera quando de sua prisão em Limoeiro-Lisboa. Assinando-se a partir de então
Leonardo de Nossa Senhora das Dores Castelo Branco.
Voltando ao lar, desiludido da política, passa a dedicar-se inteiramente a uma ideia que já o empolgava há muito tempo: enveredar pelo caminho da ciência, principalmente da mecânica, e poder assim ajudar os outros com suas descobertas. É um sonho e uma ilusão ao mesmo tempo.
Inteligente, mas autodidata, não tem base intelectual para lograr êxito. No entanto vai tentá-lo. Não encontrando apoio no Brasil, viajou em 1833 a Lisboa, a fim de estudar e trabalhar na realização de seu ideal. Em 1850 volta ao Brasil e, fazendo experiências sempre fracassadas, está a algum tempo no Maranhão e na Bahia. Sua obsessão é descobrir o moto-contínuo. Da Bahia viaja para o Rio de Janeiro, onde se encontra com o Conselheiro José Antônio Saraiva, o fundador de Teresina, que se interessa por suas ideias e se prontifica a ajudá-lo. Saraiva consegue para ele o apoio do Imperador. Como ele precisava de um laboratório, põem à sua disposição, no Arsenal da Marinha, os meios necessários para a construção de sua máquina grandiosa e inexequível. Mas não vai, além disso.
Verba ele só conseguiu uma, de cinco contos de réis, para construir uma barca de sua invenção, que não deu resultado prático.
Nada deu certo. Tudo fracassou. E nessa faina improdutiva ele morreu, na maior penúria, com 85 anos de idade, no dia 12 de julho de 1873.
Leonardo deixou algumas obras. Um poema - A Criação Universal, com 4.247 versos soltos; O Santíssimo Milagre, "canção em que resumidamente descreve o santo milagre de Santarém" e Astronomia e Mecânica Leonardinas, que, segundo João Pinheiro, não chegou a ser publicada.
Esta última também é volumosa, dividida em 2.422 números, na qual abordou os mais graves problemas geográficos e astronômicos, de acordo sempre com a sua visão bíblica, que ele julgava inteiramente científica.
Para a ciência, sua obra não trouxe qualquer contribuição. Mas, por ser obra de um homem nascido e criado numa das mais rústicas Províncias do Norte do Império, é de reconhecer-se que ele se superou a si próprio e honrou a sua terra natal.
Sua memória como patriota que trabalhou e sofreu denodadamente pela nossa independência, cumpridor que foi de seus deveres em meio a padecimentos físicos e morais, sem jamais receber a mínima recompensa, sua memória, digo, merece ser honrada pelos piauienses.