Academia Campomaiorense de Ciências, Artes e Letras

Maria de Jesus Saraiva Monteiro

Cadeira 9 - Patrono

Ao fazer um introdutório comentando Marion Saraiva (1902 - 1968), para o Almanaque Campo Maior/ Revista da ACALE, tem-se um cuidado com uma parcialidade ,objetivando não fazer enfeites/desenfeites 'retóricos' redacionais, pois estamos utilizando um referencial teórico que segundo TAVARES (1998) adota uma filosofia historiográfica vendo-a como:

"Ciências Social e não como uma narrativa de endeusar/endiabar quem quer que seja". (p.216). Essas linhas baseiam-se em leituras, observações e entrevistas com pessoas que tiveram alguma relação no cotidiano da citada. Recortes do Jornal ALJAVA, editado em Parnaíba, datado de 10/ 12/1960, R. Ferraz Filho assim se expressa sobre a poetisa:

MARION SARAIVA MONTEIRO, há anos reside em sua terra natal - CAMPO MAIOR - e desde a sua mocidade vem a poetisa piauiense escrevendo lindos versos que se têm espalhados por todos os recantos do nosso imenso País, MARION, na sua simples cidade sem par, tem escritos vários poemas e os tem lançado ao público pela imprensa do Piauí. Com o seu maravilhoso talento poético, as suas poesias em variadas epígrafes têm agradado aos leitores e de maneira especial aqueles que, nas relações de sua intimidade familiar, conhecem maior número ainda de suas grandes produções, ainda presas ao seu particular arquivo, em suas estantes, na sua sala de estudos, onde a expansão do gênio poético irradia as mais belas poesias que se pode imaginar

MARION é profundamente simples, e completa, mas é sem dúvida, de inteligência e aprimorado de pensamentos poéticos que a tornam feliz, através do âmbito de sua maior felicidade que é, como sempre foi, desde os primórdios dias de sua preciosa existência, escrever os seus pensamentos em versos, traduzindo em linguagem clara e simples, tudo aquilo que tem nascido do seu lúcido espírito religioso, para mostrar ao mundo moderno que a poesia é bálsamo da vida, que alivia mágoas e alimenta o seu mundo.. (R. FERRAZ FILHO, ALJAVA, p. ?).

Ferraz Filho ao se referir que muitas poesias/pinturas de Marion se encontram: "I...] ainda presas ao seu particular arquivo ...I" já deixa implícito nas suas entrelinhas o seu particular incentivo à poetisa para editar seus escritos em forma de livro. Sugestão que continua ecoando aos herdeiros da produção de Maria de Jesus Saraiva Monteiro.

Sobre seus dotes/dons Alvarenga (2009) aciona a pena sobre a diversidade de atuação dela: "Poetisa, pesquisadora, historista, pintora, contista e professora".

A Educadora Marion (MARIA DE JESUS SARAIVA MONTEIRO) pestanejava para uma diversidade de temas da "sociedade e cultura" (ALVARENGA, 2009) de uma Campo Maior nos anos 30, 40, 50 e 60 nas pautas de educação, política e vida religiosa (católica). Particularmente me atentou um artigo dela sobre o açude como a perceber sinais da vindoura depredação antrópica sobre aquele manancial.

Nos artigos Marionistas (observados) são retratadas questões relacionadas à produção/divulgação de saberes culturais a partir das práticas e da memória no âmbito da compreensão temporal da Campo Maior em que ela se contextuava, "enxergava" e teorizava. Focando, para a época um debate historiante e teórico que Marion literava e envolvia nas suas produções.

Credita-se a ela, embora, em produções dispersas (comum à época) ecos de muitas lembranças/fontes que tomam forma em trabalhos que possibilitam a compreensão de outros autores/pesquisas a respeito do interesse que Marion tinha pela militância cultural de sua então Campo Maior.

Através da análise de alguns fascículos do Jornal - A Luta - e o estudo de alguns poemas que retratam a literatura e a história de Campo Maior, essa mulher de uma maneira geral trouxe para a realidade contemporânea confrontos e escritos dos atos circunstanciais, gerando perspectivas que provam e contestam a origem de Campo Maior, a criação de instituições, relatando a história escravocrata visto em algumas fazendas antigas da região, além de focalizar a literatura engajada na problemática social, cultural destacando nos gêneros literários uma poesia inserida que se alargava nas linhas românticas, considerando a linha social, defendendo ideais de liberdade fazendo um retrocesso histórico da província campo-maiorense. Seu talento comprovado serve de conhecimento e denuncia a relação autor/leitor próprio do discurso da história, em que o autor propõe para o leitor uma ligação entre o passado e o presente, contribuindo para os estudos literários e históricos, expondo o ficcional e o real, levando o leitor a reviver e questionar o passado. (ALVARENGA, 2009, P. 13).

Também, no Hodierno analisar do poema "ABELHEIRA" ela joga "sugestivamente" na livre interpretação do leitor que o latifúndio fora local de tortura de escravos:

Velha... Casa... Quem sabe, mal profundo.

Não vistes torturar teus moradores!

À luz das historiografias atuais o latifúndio e a escravidão foi uma aposta do empreendedorismo da elite AGRÁRIA que tinha preguiça de empreendimentar uma cultura industrializante/operariante. Nisso essa elite era "usada" a assim ser/permanecer pelo "CLERO OFICIAL" e pelo governo central de então que segundo historiadores do tema tinham medo de um potencial reboliço que a classe trabalhadora viesse produzir e assim causar trincaduras no ambiente "clerico-imperial"

Marion que certamente percebeu as ideologias sobre o cativismo, induz poeticamente o viés do escravismo:

"Tens um'alma, decerto a alma das cousas.

Que reclama sua página na história"

Não estaria Marion externando sua opinião sobre histórias "pousadas"? Quando ela escreve "torturas" e "reclamam sua página na história".

É Marion, hoje temos as cotas e a constituição abole a cultura do racismo.

Outro pesquisador que está no encalço de tirar a obra Marionina das gavetas e apresentá-la ao público é o historiador campomaiorense Celson Chaves. Em seu inédito trabalho: A Possibilidade Interpretativa das Pinturas de Marion Saraiva, o autor interpreta: "A textualidade das pinturas de Marion Saraiva reflete, de certo modo, seu estado de espírito (...) livre das individualidades modernas". Campo Maior saúda a educadora Marion Saraiva em nome de Rua, Escola Estadual e Biblioteca Municipal. Finalizando! A obra Marionista divide opiniões e isso é normal (quando se trata de público e crítica) para quem mete a cara no mundo, ou seja, quem se pronuncia e não se omite nos próprios acortinamentos.

Fontes Consultadas

Jornal ALJAVA. Parnaíba, edição de 10/12/1960. (os demais dados estão omissos pois é um recorte e quem recortou não anotou os demais dados do periódico).

Jornal UNESP, ano 2, número 11, Campinas. Jan/Fev09

ALVARENGA, Glaziane Soares. Um olhar feminino sobre a literatura e a história de Campo Maior. Artigo (esp. em Lit. Brasileira). UESPI, Campo Maior. 2009.

CHAVES, Celson Gonçalves. A Possibilidade Interpretativa das Pinturas de Marion Saraiva. Texto não publicado.

LIMA, Reginaldo Gonçalves de. Geração Campo Maior: anotações para uma enciclopédia. Gráfica Júnior; Teresina. 1995.

TAVARES, Erico. Metodologia(s) da Pesquisa em História. Ed. thois. Rio de Janeiro 1996.

A Academia Campomaiorense foi fundada no dia 26 de novembro de 2003. Incialmente era composta apenas de Escritores, não demorou muito abriu-se espaço para os Artistas, e recentemente, agregou-se os Cientistas, formando assim a tríade do conhecimento humano.